quinta-feira, 23 de maio de 2013


Varejo Farmacêutico: uma visão de futuro

Por Cristina Zanon
                
O mercado farmacêutico brasileiro vive hoje uma transformação, com mudanças conjunturais e socioeconômicas. É um momento de crescimento que está sendo especialmente impulsionado pelos medicamentos genéricos, evoluindo para atingir o 7º lugar no ranking mundial nos próximos 3 anos. Com o aumento da renda da população e os programas de assistência farmacêutica desenvolvidos pelo Governo Federal, foi criado em 2007 o programa “Farmácia Popular do Brasil”, que atualmente beneficia 3,5 milhões de pessoas e tem como objetivo principal aumentar o acesso a medicamentos que são subsidiados por meio de parcerias com as redes de farmácias privadas. Os genéricos respondem por 65% dos produtos incluídos nesse programa (total de 108 produtos). Em cinco anos, o resultado da Farmácia Popular foi um crescimento de 227,64%, movimentando R$ 311 milhões em 2011, segundo último levantamento da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma). O fortalecimento desse programa poderá resultar numa política pública que visa à redução de custos para o Governo, garantindo maior adesão ao tratamento aliado à capacidade de compra dos consumidores brasileiros.
                A partir de 2008, o mercado farmacêutico alcançou 57,3 bilhões de unidades/doses contra 80,5 bilhões de unidades/doses em 2011, um crescimento de 40,5% no período de quatro anos. Em volumes de vendas no mesmo período, o mercado nacional cresceu cerca de R$ 38,2 bilhões, que representa um crescimento de 56,5% conforme dados da IMSHealth-Sindusfarma (2012). Para reduzir a dependência do exterior com importações e tecnologia, uma das saídas encontrada pelo governo federal é desenvolver o mercado de biofármacos, com as “super farmacêuticas” que através dos recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) irão investir na Biotecnologia. A perspectiva de crescimento de volume é positiva até 2017, com uma previsão de atingir R$ 135 bilhões de unidades doses (IMS). Algumas influências serão determinantes nessa evolução: aqueda de patentes, o envelhecimento da população contribuindo para o aumento das doenças crônicas e a migração de volumes do institucional para o varejo via Farmácia Popular do Brasil. Segundo a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), serão necessários investimentos em inovação para reduzir a dependência externa, uma vez que o País possui a melhor lei de propriedade intelectual entre os Brics, o império da lei e política econômica responsável. De acordo com o Valor Econômico Setorial-Química de junho de 2012, a expectativa até 2015 é de que dezessete moléculas tenham a patente expirada, com potencial de receita para os medicamentos genéricos de R$ 370 milhões por ano.
E o varejo farmacêutico, como fica dentro desse cenário?
As transformações ocorridas na distribuição alteraram sua atuação criando três níveis de varejo: local, regional e nacional. Ainda assim, é interessante notar como cada grupo conquistou seu espaço no mercado. Sua vantagem competitiva pode ocorrer de várias formas, seja segmentando seu portfolio de produtos, sua capilaridade geográfica e com novos entrantes internacionais que fazem o mercado interno se movimentar.
                Estratégia, gestão e pessoas são pilares que integram a estrutura do varejo e cabe ao gestor buscar as melhores alternativas para investir neles de maneira focada. Conhecer as mudanças no mercado faz parte do exercício contínuo pra alinhamento do varejo cmo seu consumidor final. A globalização trouxe uma influência internacional de costumes e, com o agressivo crescimento e expansão da concorrência, gerou uma ação e reação no comportamento do consumidor. Mas quem são eles, afinal? O novo consumidor é mais exigente, não compra mais só o que está disponível, ele compra o que ele quer. Passou a buscar mais qualidade de vida, seja através da saúde, alimentação e informação, com necessidades específicas de produtos e serviços, criando também um novo conceito de família com diferentes realidades, menor tamanho, a mulher no mercado de trabalho e o papai indo às compras. Outro dado importante nas preferências do consumidor é a transformação do conceito de fidelização que é o ato de tornar clientes em pessoas fiéis ao seu produto, marca ou serviço em retenção. Isso porque o consumidor de hoje é dinâmico, bem informado, exigente e está sempre buscando novas experiências.
                Para que a atmosfera de compra tenha sucesso é necessário observar alguns pontos importantes: design, identidade visual, luz, som, cores, aromas, decoração, espaços adequados de circulação, variedade de produtos, aspecto dos funcionários e o atendimento ao cliente.
                Os varejistas que vencem por causa de seu atendimento ao consumidor, desenvolveram uma facilidade de uso para os clientes:
1.       Os clientes querem uma experiência que torne as compras fáceis e descomplicadas.
2.       Eles querem uma experiência que facilite a resolução de qualquer que seja o problema que têm.
3.       Eles querem uma experiência que os capacitem a escolher facilmente, entre as opções disponíveis, o que é a certa para eles.
4.       Eles querem uma solução sugerida pelos varejistas, que conhecem seus produtos e entendem as necessidades, desejos e aspirações dos clientes.

Quando esses clientes vão às compras, estão procurando tanto por ideias, como produtos ou serviços que os ajudem a encontrar uma boa solução. Por sua vez, varejistas podem fazer muito mais do que simplesmente resolver um problema. Eles ajudam a criar ideias, oferecer segurança, prover uma experiência enriquecedora e oferecer informações para ajudar os clientes a entender suas opções e tomar decisões facilmente. “O grande segredo do varejista é ver o mundo através da perspectiva do cliente”. A diferenciação no varejo é que o cliente precisa estar no centro dos pensamentos de um varejista. Hoje, os consumidores estão procurando eficiência. Eles querem produtos, planejamento de lojas, soluções e serviços que aumentem a eficiência em suas compras. Desta forma, o desafio do varejo farmacêutico será conseguir estar alinhado às tendências; desenvolver novas estratégias para obter crescimento de marketshare, desenvolver e implantar ferramentas para o desenvolvimento de categorias; medir o ROI (retorno sobre o investimento) e futuros investimentos a serem realizados, porque nesse novo cenário não há mais espaço para ineficiência, porque o consumidor está num processo de mudanças, o atendimento e a prestação de serviços nunca é acidental e estratégias de negócio baseadas no comportamento geram motivações de compra.

Cristina Zanon é diretora do Instituto Brasileiro de Executivos do Varejo (IBEVAR), professora e coordenadora de cursos MBA na FIA / LABFIN / PROVAR.