segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Aluguel em aeroporto é mais caro que em shopping de luxo

Infraero  faturou R$ 1,3 bilhão com a exploração comercial dos aeroportos em 2012, uma alta de 17,5% em relação a 2011. Ao todo, a empresa tem 5 mil contratos ativos em 63 aeroportos do País, que lhe garantem 30% de sua receita.

(Jornal do Comércio - Porto Alegre)

                Os aeroportos brasileiros superaram os shoppings de luxo na lista de endereços mais caros para o varejo. As licitações mais recentes para alugar uma loja no aeroporto de Congonhas fecharam com preços bem superiores à média do metro quadrado cobrado no shopping Iguatemi, em São Paulo, que custa R$ 769,00, segundo o ranking da Cushman&Wakefield de 2012, que traz o espaço como o mais caro para lojistas do Brasil.
                A fabricante de meias e roupas íntimas Lupo, por exemplo, inaugurou, no mês passado, um espaço de 21 m², cujo aluguel custa R$ 20 mil. São R$ 952,00 por cada metro quadrado ocupado, o preço mais alto pago pela rede, que mantém cerca de 250 lojas no Brasil, de acordo com a gerente de franquias da marca, Carolina Pires. Isso porque a Lupo conseguiu levar o espaço pelo preço mínimo. Como foi a única empresa interessada na licitação, não teve de participar de um leilão.
                No caso da lanchonete popular de Congonhas, que prevê a oferta de alimentação a preços comedidos, uma disputa entre nove empresas no pregão realizado no fim do ano passado inflou o valor de locação para quase quatro vezes o lance inicial. A área de 68 metros quadrados do subsolo do desembarque foi alugada por R$ 67 mil mensais pela RA Catering, ou R$ 985,00 o metro quadrado.
                “O preço disparou nos últimos anos e superou os shoppings de luxo. Isso não era uma situação normal no País”, aponta Mauro Gandra, presidente da Associação Nacional de Concessionárias de Aeroportos Brasileiros (ANCAB), entidade que reúne as principais empresas que alugam espaços nos aeroportos. Ele retribui a alta no valor das locações ao reajuste dos preços na tabela da Infraero e a maior concorrência entre os varejistas pelos espaços.
                O especialista em infraestrutura aeroportuária e consultor da Aeroservice, Mário de Mello Santos, diz que o custo mais alto do aluguel em aeroportos do que em shopping centers é praxe no exterior. O motivo é que o varejista tem acesso a um local com tráfego de passageiros intenso e concorrência menor. Os aeroportos brasileiros registraram 193 milhões de embarques e desembarques no ano passado, segundo a Infraero. “Um local com limitação de concorrência permite que o varejo trabalhe com margens mais altas. Por isso tende a ser mais caro”, diz o presidente do PROVAR, Claudio Felisoni.
                No Brasil, a alta dos aluguéis nos aeroportos foi puxada por uma mudança no formato da licitação da Infraero no fim de 2009. “Começamos a oferecer os espaços por meio de pregão presencial, que propicia uma disputa maior entre as empresas”, disse o superintendente regional da Infraero em São Paulo, Willer Furtado. “Uma pode cobrir o lance da outra, o que antes não era possível, e isso acaba pressionando os preços.”
                A Infraero estabelece um preço mínimo para a locação do espaço e inicia um leilão. Segundo Furtado, o valor é definido pela Infraero de acordo com pesquisas feitas em todos os aeroportos administrados pela estatal e até em shopping centers.
                O preço do aluguel mais caro reduz a rentabilidade das lojas e já motivou alguns varejistas a desistirem do espaço. “As nossas lojas em aeroportos vendem mais que um bom shopping na mesma cidade, mas a rentabilidade é menor porque o aluguel custa muito mais”, afirma o diretor de varejo da Dudalina, Rui Hess de Souza. A empresa abriu sua primeira loja em aeroporto há 7 anos, em Curitiba, e hoje tem espaços alugados também em Congonhas, Navegantes, Maceió, Recife e Londrina. A Dudalina tentou entrar nos aeroportos de Salvador e Porto Alegre, mas desistiu no meio do leilão. “O lance ficou acima do ponto de equilíbrio. Só entramos se a loja for sustentável. Onde estamos dá lucro”, disse Souza.
                Algumas licitações nem chegam à fase de leilão e terminam sem interessados. Foi o caso de 14 das 60 licitações para exploração de áreas comerciais feitas nos aeroportos paulistas entre 2012 e junho de 2013, segundo levantamento com base nos dados da Infraero. O custo de manter lojas nos aeroportos também pesou no caixa da rede de livrarias Laselva, que pediu recuperação judicial em maio. Em nota, a empresa disse que suas despesas com aluguéis subiram 40% entre 2007 e 2012 devido às “mudanças nos sistemas de licitação”. A Laselva tem a maioria de suas lojas em aeroportos e promoveu uma expansão agressiva no setor nos últimos anos – o número de unidades saltou de 40 para 80 em 6 anos.

                Para algumas empresas, estar dentro de um aeroporto traz oportunidades que vão além das vendas. É o caso da Lupo, que quer usar o espaço para fazer ações de marketing com o cliente. “A loja se paga, mas não dá um lucro mirabolante”, disse Carolina. “Por isso, entramos no espaço também pensando em uma proposta de marca.”

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