sexta-feira, 5 de julho de 2013

Varejo já prevê neste ano um Natal "magro"

Varejo já prevê neste ano um Natal “magro”

Em declínio desde o começo de 2012, o comércio sofer com consumidor menos otimista com o cenário econômico e político brasileiro

Flávia Milhassi, de São Paulo, para o DCI – SP


Desde o começo do ano o varejo ampliado – que inclui carros e material de construção – tem apresentado desaceleração. Essa tendência de queda está acentuada no período devido a fatores como inflação, alta dos juros e o menor poder aquisitivo do consumidor, que hoje apresenta 40% da sua renda comprometida com dívidas anteriores.
                Somados, esses fatores fazem com que a perspectiva do setor seja menos otimista no terceiro e quarto trimestre e que até mesmo o Natal – principal data temática ao comércio – seja mais magro este ano. Segundo Claudio Felisoni, presidente do Programa de Administração do Varejo (PROVAR) e da Felisoni Consultores Associados, a tendência é de que não ocorra nova ascensão social entre os consumidores brasileiros e isso impactará negativamente o setor no futuro.
                “Nesse cenário atual – Inflação e juros com viés de alta – não será possível ver a classe C emergir para a classe B. Logo, os mais de 30 milhões de brasileiros que chegaram à classe média estão estagnados”, disse o especialista.
                Ainda na opinião do analista, isso é reflexo de políticas que privilegiaram apenas o consumo e reverteram poucos esforços em investimentos. “Isso tem sido falado desde o ano passado que basear o crescimento do PIB apenas no consumo, não seria o suficiente. Pode-se dizer que esse sistema se esgotou no País”, concluiu.
                Felisoni baseia-se na pesquisa trimestral feita pelo PROVAR e da Fundação Instituto de Administração (FIA) que apontou o recuo de 8,8% na intenção de consumo de bens duráveis no terceiro trimestre.
                O indicador apontou também 50,4% de intenção frente aos 59,2% apresentados no segundo trimestre. Na comparação anual, a queda ficou em 3,4%.
                Ainda segundo os dados da pesquisa, esse índice é o menor da série histórica da pesquisa desde 2002. “A massa real de salários, o volume de crédito no mercado, a taxa de juros, o prazo médio de pagamento, o comprometimento da renda em cerca de 40% e a inadimplência na casa dos 7,8% têm afetado muito o ânimo de compra e a tendência é de forte desaceleração do consumo até o final de 2013”, disse Felisoni, que completou: “Ao que tudo indica teremos um Natal bem mais enxuto do que foi o ano passado”.
                O especialista explicou ainda que ele seguirá a em linha com o que foi o Dia das Mães, “positivo para as vendas, mas bem menos do que o esperado”.
                Outro ponto a ser ressaltado e que foi levantado pela pesquisa foi a questão da transferência entre categorias. Esse fenômeno ocorre quando o consumidor migra entre as categorias de intenção de compra. Antes eles migravam por produtos mais baratos, a pesquisa atual apontou que isso, ao que tudo indica, não acontecerá. Nuno Manoel Martins Dias Fouto, diretor de estudos e pesquisas do PROVAR, explicou que esses movimentos são cíclicos e ocorrem devido às condições financeiras do consumidor. “No segundo trimestre esse índice de transferência foi de 6,1%, nesse momento eles migraram para outras categorias. Nesta amostra, esse índice foi de 0%, o que indica que ele não fará compra devido a forte restrição de renda em que ele se encontra.”, disse.
                Os supermercados são as principais operações que sentem esse efeito de transferência. O consumidor ao invés de comprar artigos de marca mais Premium, ele substitui por produtos de menos valor agregado, tudo para que ele não deixe de comprar os itens de primeira necessidade.
MANIFESTAÇÕES
                Os protestos ocorridos no mês de junho impactaram negativamente o varejo popular. A rede Armarinhos Fernando perdeu cerca de 30% das suas vendas no mês passado. Segundo Ondamar Antonio Ferreira, gerente-geral da rede, mesmo com o fim das manifestações nas ruas, o fluxo de clientes apresentou queda. “Os protestos fizeram com que a gente perdesse cerca de 30%, mesmo depois que eles ficaram menores, os clientes não retornaram à loja”, disse ele, ao que completou: “Manifestar é válido, mas as depredações é que não podem ocorrer”.
                Ferreira acredita que para recuperar este prejuízo no mês de junho é preciso esperar as vendas de Dia das Crianças. “Nossa expectativa é vender de 9% a 10% a mais do que o mesmo período do ano passado. O mercado teve uma queda, mas estamos otimistas com os próximos meses, ainda mais pelos produtos que vendemos”, concluiu.
                Questionado sobre os estoques, Ferreira disse que está tudo acerto até para as vendas de final de ano. “Eles têm produtos o suficiente para atender a demanda que vier”, disse.

                Para Felisoni, nesse momento o que mais impacta o varejo e outros setores é a paralisação dos caminhoneiros. Para o especialista, não há como o varejo se preparar uma vez que aumentar os estoques não é viável a uma operação. “Você já está com o consumo em baixa, mexer no seu capital de giro com estoques só vai prejudicar ainda mais os juros com sinais de alta”, disse.

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