Varejo já prevê neste ano um Natal “magro”
Em declínio desde o começo de 2012, o comércio sofer com
consumidor menos otimista com o cenário econômico e político brasileiro
Flávia Milhassi, de São Paulo, para o DCI – SP
Desde o começo do ano o varejo ampliado
– que inclui carros e material de construção – tem apresentado desaceleração.
Essa tendência de queda está acentuada no período devido a fatores como
inflação, alta dos juros e o menor poder aquisitivo do consumidor, que hoje
apresenta 40% da sua renda comprometida com dívidas anteriores.
Somados,
esses fatores fazem com que a perspectiva do setor seja menos otimista no
terceiro e quarto trimestre e que até mesmo o Natal – principal data temática
ao comércio – seja mais magro este ano. Segundo Claudio Felisoni, presidente do
Programa de Administração do Varejo (PROVAR) e da Felisoni Consultores
Associados, a tendência é de que não ocorra nova ascensão social entre os
consumidores brasileiros e isso impactará negativamente o setor no futuro.
“Nesse
cenário atual – Inflação e juros com viés de alta – não será possível ver a
classe C emergir para a classe B. Logo, os mais de 30 milhões de brasileiros
que chegaram à classe média estão estagnados”, disse o especialista.
Ainda
na opinião do analista, isso é reflexo de políticas que privilegiaram apenas o
consumo e reverteram poucos esforços em investimentos. “Isso tem sido falado
desde o ano passado que basear o crescimento do PIB apenas no consumo, não
seria o suficiente. Pode-se dizer que esse sistema se esgotou no País”,
concluiu.
Felisoni
baseia-se na pesquisa trimestral feita pelo PROVAR e da Fundação Instituto de
Administração (FIA) que apontou o recuo de 8,8% na intenção de consumo de bens
duráveis no terceiro trimestre.
O
indicador apontou também 50,4% de intenção frente aos 59,2% apresentados no
segundo trimestre. Na comparação anual, a queda ficou em 3,4%.
Ainda
segundo os dados da pesquisa, esse índice é o menor da série histórica da
pesquisa desde 2002. “A massa real de salários, o volume de crédito no mercado,
a taxa de juros, o prazo médio de pagamento, o comprometimento da renda em
cerca de 40% e a inadimplência na casa dos 7,8% têm afetado muito o ânimo de
compra e a tendência é de forte desaceleração do consumo até o final de 2013”,
disse Felisoni, que completou: “Ao que tudo indica teremos um Natal bem mais
enxuto do que foi o ano passado”.
O
especialista explicou ainda que ele seguirá a em linha com o que foi o Dia das
Mães, “positivo para as vendas, mas bem menos do que o esperado”.
Outro
ponto a ser ressaltado e que foi levantado pela pesquisa foi a questão da
transferência entre categorias. Esse fenômeno ocorre quando o consumidor migra
entre as categorias de intenção de compra. Antes eles migravam por produtos
mais baratos, a pesquisa atual apontou que isso, ao que tudo indica, não
acontecerá. Nuno Manoel Martins Dias Fouto, diretor de estudos e pesquisas do
PROVAR, explicou que esses movimentos são cíclicos e ocorrem devido às
condições financeiras do consumidor. “No segundo trimestre esse índice de
transferência foi de 6,1%, nesse momento eles migraram para outras categorias.
Nesta amostra, esse índice foi de 0%, o que indica que ele não fará compra
devido a forte restrição de renda em que ele se encontra.”, disse.
Os
supermercados são as principais operações que sentem esse efeito de
transferência. O consumidor ao invés de comprar artigos de marca mais Premium,
ele substitui por produtos de menos valor agregado, tudo para que ele não deixe
de comprar os itens de primeira necessidade.
MANIFESTAÇÕES
Os
protestos ocorridos no mês de junho impactaram negativamente o varejo popular.
A rede Armarinhos Fernando perdeu cerca de 30% das suas vendas no mês passado.
Segundo Ondamar Antonio Ferreira, gerente-geral da rede, mesmo com o fim das
manifestações nas ruas, o fluxo de clientes apresentou queda. “Os protestos
fizeram com que a gente perdesse cerca de 30%, mesmo depois que eles ficaram
menores, os clientes não retornaram à loja”, disse ele, ao que completou:
“Manifestar é válido, mas as depredações é que não podem ocorrer”.
Ferreira
acredita que para recuperar este prejuízo no mês de junho é preciso esperar as
vendas de Dia das Crianças. “Nossa expectativa é vender de 9% a 10% a mais do
que o mesmo período do ano passado. O mercado teve uma queda, mas estamos
otimistas com os próximos meses, ainda mais pelos produtos que vendemos”,
concluiu.
Questionado
sobre os estoques, Ferreira disse que está tudo acerto até para as vendas de
final de ano. “Eles têm produtos o suficiente para atender a demanda que vier”,
disse.
Para
Felisoni, nesse momento o que mais impacta o varejo e outros setores é a
paralisação dos caminhoneiros. Para o especialista, não há como o varejo se
preparar uma vez que aumentar os estoques não é viável a uma operação. “Você já
está com o consumo em baixa, mexer no seu capital de giro com estoques só vai
prejudicar ainda mais os juros com sinais de alta”, disse.
Nenhum comentário:
Postar um comentário